Na escola aprendi a mais abstrata das lições: o sol era uma estrela de quinta grandeza. Saber tal coisa, segundo a professora, era um passo para vencer na vida.
Meu avô poderia ter sido meu primeiro professor se fizesse plano de aula, ficha de avaliação, tivesse licenciatura plena. O fato é que ele não aplicava prova, não passava dever de casa nem brincava de exercício de coordenação motora. Jamais me pediu que acompanhasse o caminho que o coelhinho fazia para comer a cenourinha nem me deu flor para colorir.
Meu avô devia supor que escola fosse o mundo inteiro, a vida inteira, com noite e dia, perdas e ganhos, dores e tristezas, sonos e sonhos.
Passei a duvidar da escola. Parecia-me um lugar só para dar autorizações. Se a escola não autorizassem eu não poderia saber. O medo desse lugar passou a reinar em minha cabeça.
Cheguei de uniforme novo costurado pelo carinho de minha madrinha. O caderno era Avante, com menino bonito na capa, sustentando uma bandeira com um Brasil despaginado pelo vento. Menino rico, forte, com sapatos e meias soquete. O estojo de madeira estava completo: dois lápis Johan Faber com borracha verde na ponta e mais um apontador de metal. Um copo de alumínio, abrindo e fechando como o acordeom de Mário Zan, completava as exigências da escola.
Encher o caderno com fileiras de a, e, i, o ,u foi o primeiro exercício. Vaidosa, ela me apresentava os sinais para escrever e ler o mundo.
Quando o celebrante lia o evangelho de São João, antes de nos mandar "ir em paz", eu guardava vestígios: in principio erat Verbum et Verbum erat apud Deum et Deus erat Verbum...
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